Percebe-se claramente que os gastos ou custos usados na saúde no Brasil estão com uma incrível elevação nos últimos anos. Hospitais fechando as portas, planos de saúde entrando em recuperação judicial, prefeituras chegando a destinação de 30% do seu orçamento em saúde. Em média temos 25% dos brasileiros com algum plano de saúde, os outros 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). A tabela de preços de referência SUS, que é base para a remuneração dos hospitais, teve seu último reajuste de preços há, aproximadamente, uns 17 anos. Ou seja, não se sabe bem se a causa da má saúde do sistema de saúde brasileiro é falta de recursos ou a causa é falta de uma gestão eficiente destes recursos. E por incrível que pareça, o orçamento previsto para a área da Saúde no ano de 2023 é o menor dos últimos 10 anos. Muitos hospitais dependem das emendas parlamentares para sobreviver. Estão na UTI há muito tempo!
Talvez parte dessa resposta esteja num livro escrito por Porter e Teisberg (2007), chamado Repensando a Saúde, no qual falam da “Competição de soma zero na assistência à saúde”. Os autores argumentam que a competição em assistência à saúde não está focalizada em entregar valor aos pacientes e sim, numa competição como análoga à guerra. Um perde e outro ganha. Vencer implica derrotar o inimigo. Esses conceitos de competição desconsideram o papel central do valor. A competição que não melhora o valor, redividindo o bolo em vez de ampliá-lo, é de soma zero. Infelizmente na competição de soma zero, ninguém vence de fato, muito menos o paciente, todos perdem. A soma zero na saúde gera inaceitáveis resultados, como altos custos, qualidade baixa, tratamento insuficiente, muitos erros evitáveis em diagnósticos e tratamentos, exames desnecessários, acesso limitado e uma enxurrada de ações judiciais.
Por fim, há uma competição para transferir custos em vez de reduzir custos. Os participantes do sistema procuram transferir o ônus para outras partes do sistema, do pagador para o paciente, do plano de saúde para o hospital e vice-versa, do hospital para o médico, do plano de saúde para os clientes, do empregador para o empregado, dos municípios para os estados e dos estados à União. Passar os custos de um participante para outro como em um jogo de batata quente não gera valor efetivo ao sistema. Todas essas transferências corroem o valor e não fazem absolutamente nada em termos de melhorar a assistência à saúde das pessoas.
José Paulinho Brand
Diretor executivo do Hospital Ouro Branco