Quando falamos em diabetes, muitos ainda imaginam que o problema se resume ao açúcar alto. Mas, na prática clínica — especialmente aqui no interior, onde conhecemos cada paciente pelo nome — a relação entre diabetes e saúde cardiovascular é o que mais determina desfechos, qualidade de vida e até expectativa de vida.
O ponto central é simples e direto: quem tem diabetes tem risco muito maior de infarto, AVC e insuficiência cardíaca. E esse risco não nasce do nada. A glicose elevada, sustentada ao longo dos anos, causa uma inflamação silenciosa que machuca a parede das artérias. Essa agressão abre caminho para placas de gordura, que evoluem rápido e de forma instável. É assim que surge o infarto e o AVC.
Na prática, a diabetes raramente vem sozinha. Ela costuma vir acompanhada de hipertensão, colesterol elevado, sobrepeso, sedentarismo. O conjunto é o que derruba o coração. E é exatamente aqui que está a possibilidade de mudar o futuro: identificar cedo, tratar cedo e acompanhar de forma contínua.
E existe algo que sempre relembro meus pacientes: cada aumento de 10% na aptidão cardiorrespiratória está associado a uma redução de 15 a 20% na mortalidade por todas as causas em diabéticos. Ou seja, não estamos falando apenas em controlar açúcar, mas em proteger nosso maior bem: a vida. Temos, hoje, ferramentas muito eficientes. Medicamentos modernos — como os inibidores de SGLT2 e os análogos de GLP-1 — não apenas controlam a glicose: eles reduzem mortalidade cardiovascular, protegem rim e diminuem hospitalizações. Mas não podemos esquecer o básico: exercício físico, perda de peso, alimentação simples e natural, sono adequado, redução do estresse. No interior, temos um trunfo: uma comunidade que se conhece, profissionais próximos, e uma cultura de vida mais ativa. Isso facilita o cuidado — desde que a gente faça a nossa parte.

Cardiologista e Diretor Médico Técnico do HOB
CRM 37810 | RQE 36430






